Os
brinquedos de Juan Miguel Soares Silva, de 4 anos, ainda estão
espalhados no quintal de casa, e a família do menino tenta entender o
que aconteceu. Ele é uma das vítimas do ataque em uma creche em Janaúba,
Norte de Minas Gerais, onde o vigia do local jogou álcool nas crianças e
nele mesmo e, em seguida, ateou fogo, na manhã desta quinta-feira (5).
A mãe de Juan Miguel conta que a principal característica do filho
único era a alegria de viver. "Ele era alegre, brincalhão e gostava de
brincar de bola. Ele dormia abraçadinho comigo", disse Jane Kelly da
Silva Soares, que não conteve as lágrimas.
"Eu estava pensando em mudar ele de escola, porque a gente ia mudar de
bairro. Eu acordei o Juan hoje cedo para deixá-lo na creche e depois já
vi ele morto no hospital”, relatou a mãe.
Além de Juan Miguel, outras três crianças morreram no ataque ao Centro
Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, no Bairro Rio Novo. O
vigia, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, morreu no hospital algumas horas depois.
"Juan gostava de jogar bola, andar de bicicleta. Nós estávamos
programando fazer um almoço aqui no Dia das Crianças e fazer um bolo
para cantar os parabéns pra ele, porque não deu pra comemorar no dia do
aniversário dele", afirmou a avó de Juan Miguel.
Ana Clara Ferreira Silva, outra vítima de 4 anos,
estudava na creche havia dois anos e tinha um irmão gêmeo, Victor Hugo,
e mais quatro irmãos. Três estavam na creche no momento do ataque e não
sofreram queimaduras.
"A gente gostava de brincar de esconder e de cobra cega. Na televisão, a
gente gostava de assistir Peppa Pig", disse Victor Hugo.
"Minha filha era muito especial, esperta. Era gente boa demais minha
filhinha. A creche é aqui pertinho de casa, nós ouvimos o barulho e
corremos pra lá", disse o pai das crianças Nelson de Jesus Silva.
Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4 anos, também morreu no ataque.
"Ele era um menino alegre. Nós escutamos falando no rádio que a creche
que tinha pegado fogo era no Bairro Rio Novo. Meus dois sobrinhos
estudavam lá, um morreu e o outro está ruim no hospital", disse Edna
Pereira dos Santos, tia de Juan Pablo.
A quarta criança morta no incêndio é Luiz Davi Carlos Rodrigues, também de 4 anos.
"O sentimento é de revolta. Era uma criança inocente, tinha tudo pela
vida ainda. Fico imaginando a cena dele na hora gritando mamãe, pedindo
ajuda e ninguém podendo ajudar. É triste”, disse Laira Sandriane
Rodrigues Silva, prima do menino.
Feridos
De acordo com a assessoria do Hospital Regional de Janaúba, ao menos 40
pessoas foram atendidas pela unidade – 15 que estavam em estado de
choque foram liberadas.
Durante todo o dia, as famílias buscaram por notícias dos feridos no
hospital de Janaúba. "A informação que recebi aqui é que ele inalou
muita fumaça e pode ter tido queimadura interna, e deve ser transferido
porque aqui está muito cheio. Ele estuda na escola há 3 anos e sempre
foi tratado muito bem. A escola é muito boa", disse Edgar Antônio
Nogueira, pai de uma criança de 5 anos.
A filha de Joana Dark Oliveira dos Santos é uma das crianças que ficou
ferida no ataque e está internada. Joana foi avisada da tragédia por um
amigo e diz que chegou à creche antes da menina ter sido socorrida.
"Minha filha estava sentada, com falta de ar, acho que queimou por
dentro; quase não saía voz. Peço que Deus dê vida e saúde pra ela",
disse a mãe.
Segundo balanço do Corpo de Bombeiros divulgado na noite desta quinta, ao menos 26 pessoas permaneciam internadas em hospitais de Janaúba, Montes Claros e Belo Horizonte, sendo três adultos e 23 crianças; todos os adultos estão no Hospital Regional de Janaúba.
Ainda segundo os bombeiros, ao menos 10 crianças estão internadas no
Hospital Santa Casa de Montes Claros. Elas apresentaram queimaduras pelo
corpo e vias aéreas; uma das vítimas, de 5 anos, teve 45% do corpo
queimado. Outros seis alunos da creche devem chegar a Belo Horizonte
ainda nesta quinta.
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