Haverá uma crise na aliança de Camilo Santana (PT). O governador terá de
escolher qual. No último ano, nenhum aliado foi tão importante e esteve tão
colado à imagem do chefe do Executivo estadual quanto Eunício Oliveira (MDB). O
presidente do Senado viabilizou liberação de verbas que estavam empacadas por
obra dos subterrâneos de Brasília. E colou em Camilo em toda qualidade de
evento: andaram de trem, rezaram jogaram futebol. Porém, se hoje o petista é
governador, é por obra, vontade e graça da família Ferreira Gomes. E as
sinalizações que vêm do clã são bem diferentes.
A Resistência pedetista
O PDT em peso, incluídos Ciro Gomes, Cid Gomes e o presidente nacional
Carlos Lupi, rejeitam hipótese de aliança com Eunício. E menos de 24 horas, o
candidato pedetista a presidente chamou o presidente do Senado de picareta, o
presidente estadual da sigla, André Figueiredo, afirmou que o MDB é a antítese
do que pensa o PDT e o presidente nacional, Carlos Lupi, afirmou que a legenda
não estará numa coligação com o MDB. Disse ainda que o partido terá dois
candidatos a senador: Cid e André Figueiredo.
Este último demonstrou explicitamente insatisfação com a condução do
assunto pelo governador Camilo Santana. “O PDT, em nenhum momento,
institucionalmente, foi chamado para discutir uma eventual composição com o
senador Eunício. O governador nunca chamou o PDT do Ceará para esse diálogo. Me
sinto no direito de ser contrário”.
O Caminho construído
Eunício tem feito todo esforço para atender aos pedidos de Camilo em
Brasília, levou aliados para a coligação governista, ao mesmo tempo em que se
amarra como pode à imagem do governador. A hipótese de eles não estarem juntos
na campanha que começa dentro de um mês e um dia é tão estranha quanto foi a
aproximação um ano atrás, depois das acusações e insultos de 2014.
Porém, o discurso do PDT não deixa o partido com cara para aceitar
aliança com o MDB daqui para agosto. Como Ciro Gomes irá se explicar
nacionalmente sobre a aliança local com quem qualificou de picareta?
Se Eunício não estiver do lado de Camilo, há potencial para um pequeno
abalo sísmico em seu bloco. Ele teve papel na ida de Domingos Filho para a base
do governador, meses após o desfecho de uma disputa que teve como consequência
a extinção do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Não parece haver caminho
de volta para Domingos, ainda mais depois dos sapos e do orgulho que teve de
engolir. Como ficará toda a costura feita por Eunício? Com que cara os dois
colegas de pelada de menos de um mês atrás irão se enfrentar na campanha?
De um jeito ou outro, haverá crise. Camilo terá de escolher qual.
Alguém sai perdendo
Seja qual for o desfecho, alguém ficará mal na foto. Se todos estiverem
juntos, Ciro e o PDT terão de engolir seu discurso e explicar a contradição de
agora, em plena campanha presidencial na qual ainda não deslanchou.
Se Eunício, por outro lado, estiver fora da coligação, ele quem fica
muito mal, mesmo. Sob o risco vexatório para o presidente do Senado de nem
reeleito ser.
A coisa chegou a um ponto no qual não há saída óbvia sem prejuízo grande
para alguém. Isso tudo pode resvalar na aparentemente serena campanha de
reeleição de Camilo.
O Tempo de Camilo
O governador deu todos os sinais de que pretende se aliar a Eunício.
Ciro já disse que esse movimento é de Camilo. Mas, ele terá peito e condições
de contrariar os Ferreira Gomes?
Se, como diz Figueiredo, o assunto não foi tratado oficialmente, é sinal
de que Camilo quer repetir o estilo Cid, conduzir as coisas até o limite do
prazo e colocar as cartas na mesa quando não houver mais tempo para muitos
movimentos. Quando os aliados não tiverem alternativa a não ser aceitar sua
decisão.
Cid fez isso muitas vezes, mas ele tinha comando do processo.
Fonte: Érico Firmo / O Povo
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