A poucos dias das eleições 2018, as pesquisas têm
gerado debates entre eleitores e norteado a campanha dos candidatos que estão
nas ruas pedindo votos desde 16 de agosto. Para muitos eleitores, espanta o
fato de amostra aparentemente pequena representar os quase 140 milhões de
votantes. E surgem dúvidas. Por que é tão difícil ser entrevistado? Dá para
confiar nos resultados dos levantamentos?
De acordo
com o Instituto Datafolha, o processo eleitoral compreende cerca de 136 milhões
de brasileiros aptos a votar nas eleições nacionais - e, desse total, nem todos
votam. O instituto trabalha com amostras de 2 mil ou 2,5 mil entrevistados nas
pesquisas. Isso quer dizer que dentre 54.300 pessoas, apenas uma é
entrevistada.
Dessa forma,
se torna mesmo difícil conhecer alguém que já tenha sido entrevistado nessas
pesquisas, embora elas aconteçam com frequência em determinados períodos.
A escolha dos
eleitores é feita a partir de critérios diferentes. O Ibope Inteliência, por
exemplo, usa parâmetros que têm como base os dados oficiais do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Tribunais Regionais
Eleitorais (TREs) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para o
Ibope, o primeiro passo é realizar a seleção probabilística dos municípios onde
as entrevistas serão realizadas e dos chamados setores censitários a partir de
dados do IBGE. Depois, a parcela de pessoas que serão entrevistadas é escolhida
seguindo quotas de sexo, idade, grau de instrução e setor de dependência
econômica. Já o Datafolha escolhe proporcionalmente de acordo com os dados do
IBGE e do TSE.
O professor
do departamento de Estatística e Matemática Aplicada da Universidade Federal do
Ceará (UFC), André Jalles, ilustra que ser escolhido para responder a uma
pesquisa "é quase como ganhar na Mega Sena". Ainda assim, as chances
de cada brasileiro participar são praticamente as mesmas.
"O que
existe de problemático ainda é que nós temos mais de cinco mil cidades com
menos de 50 mil eleitores. Cidades pequenas podem conter nichos eleitorais, e
quando há muitos nichos de um mesmo candidato há a possibilidade de alterar a
proporção de votos na eleição", explica.
Jalles
afirma que o resultado de pesquisas realizadas em cidades pequenas são
extrapolados - quando o resultado de uma cidade específica é estendido e passa
a representar outras cidades. Em caso de eleição presidencial, também é normal
mais nichos em cidades pequenas. Mas a proporção maior de nichos diferentes
compensa.
Pesquisas
são confiáveis?
As pesquisas
partem da ciência estatística para chegar aos resultados apresentados ao
público e, segundo o Ibope, "refletem fielmente" o que é transmitido
pelos entrevistados. Há diferença entre as entrevistas realizadas em lugares
públicos e nas residências. Já as feitas por telefone não sustentam a mesma
credibilidade.
Para o
Datafolha, por exemplo, é impensável realizar levantamentos por telefone. No
Brasil, apenas 40% das pessoas possuem linhas telefônicas em casa, segundo o
instituto.
Na análise
do estatístico André Jalles, o telefone é um filtro que pode atrapalhar de
forma fundamental esse processo. "Há pessoas que não atendem ligações de
um telefone desconhecido. Se você tem esse tipo de comportamento, nunca vai ser
representado", diz.
"Essas
pessoas podem ter comportamentos eleitorais mais parecidos, assim a pesquisa
deixa de registrar esse comportamento. Isso pode estar vinculado ao fato desse
grupo votar mais para um candidato específico", analisa. "O critério
básico para se construir a representatividade é ter um plano amostral que gere
para cada brasileiro a mesma chance dele aparecer na pesquisa, mesmo que seja
pequena", pondera Jalles.
Fonte: Jornal O Povo
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